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Foto do escritorStéfane Franco

Segundas chances: valem à pena?


Lembra de quando nos vimos pela primeira vez? Eu estava lá, observando... e ouvi tanto falar de você! As pessoas te adoravam, era um grande sucesso na época e, à primeira vista, sabia que iria me apaixonar. Como não?

Você tinha uma história que encantava milhões de pessoas, e seu nome... Ahhh, seu nome! Aquelas letrinhas juntas eram maravilhosas, faziam-me sonhar, incessantemente, com o dia em que o conheceria. E quando finalmente chegou, Deus, estava tão ansiosa! Esperei por aquilo com tanta expectativa, tanta paixão guardada!

Mas enquanto eu me afundava em sua história, lá no fundo eu percebi algo diferente crescer... decepção. Como você poderia ser tão interessante e atrativo para todo o mundo, mas para mim ser apenas mais um, sem fundamento e essência? Algo estava terrivelmente errado comigo, pensei. Pois enquanto eu dizia que suas páginas novas eram nada mais que apenas uma boa aparência, os outros diziam que eu era louca e que nunca vivenciaram tal experiência contigo.


O que tinha de errado comigo?

Logo “ele” me foi apresentado, quase a mesma reputação que você... era o fenômeno do momento também. E lá fui eu, novamente. Os olhos brilhando, o coração acelerado pela nova descoberta... e que páginas maravilhosas as dele! Tinha tudo para dar certo, mas aquele parafuso em meu cérebro estava solto o bastante para rejeitar a experiência.

Em minha cabeça, eram conversas sem sentido, um enredo enrolado e completamente desnecessário. E eu preciso dizer que a segunda decepção foi um pouco menos difícil de aceitar, porém nada fácil também. Eu ainda não entendia, mas por fim desisti desse amor em potencial e segui em frente.

Vez ou outra encontrava listas na internet, via indicações de amigos próximos e me deixava levar por meu bom julgamento do que seria bom ou ruim. E, por anos, deu certo! Eu sabia diferenciar os dois lados perfeitamente e evitava, assim, outra decepção.

Mas é claro que, como seres humanos, somos sujeitos a errar quantas vezes forem necessárias, certo?

A terceira vez foi, justamente, por uma associação. Meu novo amor em potencial era extremamente semelhante a um antigo amigo, mas sua receita prometia ser completamente diferente... e aquilo me encantou! Eu sempre me atraí pelo diferente, por aqueles que prometiam me surpreender – positivamente – e deixar-me sem fôlego! O banal me repudiava, e o normal era totalmente anormal para a minha cabeça.

E que surpresa a minha quando quebrei a cara! Já tinha tido minhas duas desilusões, mas dessa vez fora um pouco pior... como algo tão igual a alguém que amava podia me ser tão repugnante?

O coração estava aprendendo a lidar com isso, mas embora minha mente sempre tentasse assumir o controle, vez ou outra o pequeno órgão o distraía e tomava a liderança. Preciso admitir que ele fazia um ótimo trabalho, mas não existia um meio termo, algo que “ele é bom, mas também tem um lado horrível”. Como dizem por aí, era “8 ou 80”.

Quando acertava o alvo maior, a felicidade que me preenchia era tanta que não conseguia parar de falar sobre o assunto, e meu sorriso não disfarçava um segundo sequer. Mas durante os períodos de 8, entretanto, a dor era imensa.

Por sorte, foram poucos os momentos em que ele errava, 4, para ser mais exata.

A quarta foi, de longe, a mais surpreendente.

A capa me chamara a atenção, sua história prometeu ser incrível e até mesmo minha mãe havia se rendido a conhece-la... mas sua reputação não era das melhores. Diziam ser alguém estranho, sem sentido e completamente enrolado. A expectativa caía a cada dia, até que, após a primeira página, desisti.

Tinha muitas outras opções na época, poderia escolher qualquer uma delas e me satisfazer.

Era o certo a fazer, certo? Simplesmente esquecer e seguir em frente?

Mas sempre que me convencia disso, os quatro fantasmas apareciam em momentos inoportunos, a lembrança de suas histórias inacabadas me tirando o sono e implorando por uma segunda chance.

Segundas chances tinham uma má reputação... e ainda a têm! Mas o que posso dizer? Nunca fui o tipo de pessoa que prefere não arriscar.

O primeiro a ganhar sua segunda chance foi cerca de dois anos após sua primeira... e a surpresa foi incomparável! A cada página, percebia que havia muito mais por debaixo dos panos do que ele mostrava. Sua história era envolvente, sua essência brilhava e meu coração exclamava de alegria! Era um grito de felicidade, e não há nada melhor do que ser surpreendido por aquele a quem você não dava nada.

Quando terminou, o sorriso em meu rosto ficou dependurado alí por semanas! Minha mente dizia que era apenas um golpe de sorte, mas meu pequeno órgão vermelho afirmava que o melhor ainda estava por vir, se ela desse uma segunda chance aos outros 3 inacabados.

A luta entre os dois perdurou, foram tempos de amores temporários, de encontros divertidos e sem muitos casos apaixonantes. Até que decidi dar uma segunda chance ao meu segundo amor em potencial do passado.

E adivinhe só... surpresa! A experiência se tornara memorável, e repetiu-se nos outros dois.

Foram momentos extraordinários que fizeram valer à pena todo o tempo esperado. Ao fim das segundas chances, meu coração gritava um satisfeito eu avisei. Nada restou à minha mente senão admitir que o pequeno órgão tinha seus dons, aceitando ser comandada algumas vezes.

Eu nunca fui fã de livros com finais óbvios, ou com uma narrativa simplória e natural... as ficções com reviravoltas são muito mais interessantes! E surpreender-se com a história de um livro que você já tinha dado como fracasso é simplesmente uma das melhores experiências que podemos viver.

Os livros da minha estante são meus maiores tesouros, e os adoro e protejo igualmente. Mas há aqueles, as 4 segundas chances, que sempre que vejo... me proporcionam em dejavú as surpresas que me entregaram.

Alguns podem dizer que segundas chances são perda de tempo, especialmente para um livro com densas páginas. Eu, entretanto, sou uma defensora do “tente novamente”, afinal, você poderia não estar preparado da primeira vez para apreciar tamanho amor e paixão.

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