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  • Foto do escritorStéfane Franco

Não à leitura!

Atualizado: 13 de out. de 2021



Ahhh, olá de novo! Sabe, eu estava pensando e decidi que já te considero um grande amigo... então vou te contar um segredo: eu sempre odiei livros!

Agora você deve estar se perguntando: mas como ela odeia livros se, além de editora do blog, vive postando coisas relacionadas a ler, e o quanto isso é maravilhoso, nas redes sociais? Meus amigos devem achar que estou louca também, mas a explicação é bem simples na verdade.

Minha mãe sempre foi amante das artes e, desde que eu nasci, lia livros pra mim. Lembro até hoje das aventuras de A menina do leite, a Galinha dos ovos de ouro, A assembleia dos ratos e o meu preferido, A cegonha e a raposa. Oh sim, todos os dias ela mostrava um desses livrinhos para a pequena Stéfane... até que a criança cresceu e deveria ler por si mesma.

E foi então que começou meu pesadelo.

Veja bem, mamãe ama ler, então ela esperava que eu gostasse também e colocou uma meta de quantos livros eu deveria ler em um mês. Mas eu era uma criança e odiava fazer as coisas impostas – odeio até hoje. Lembro que ela me dava um de seus livros e eu tinha no máximo uma semana pra terminar, para depois fazer um resumo e então conversarmos sobre a história.

Era horrível!

Uma hora inteira por dia de leitura obrigatória. É claro que eu pulava uma, duas ou dez páginas por dia, mas eu simplesmente odiava ver um livro na minha frente, o sorriso desaparecia quando mamãe chamava e o mundo parecia ficar cinza, sem vida... e lento demais. Uma hora nunca durou tanto quanto aquela.

Com o tempo ela finalmente percebeu que não adiantariam aquelas horas diárias de livros e que eu odiava cada vez mais as letrinhas das páginas, então desistiu e deixou que eu reencontrasse a leitura quando estivesse pronta.

Mas é claro que o intervalo entre esses dois pontos não foi fácil.

Ela sempre disse que eu tinha a alma sensitiva, e pessoas sensitivas se dão bem em todas as artes. Logo, comecei a aprender música. E não é que ela estava certa? Em uma semana já conhecia o bona e tocava algumas notas no teclado... até que desisti. Eu sabia tocar, gostava de ouvir as notinhas... mas, novamente, uma criança não quer ficar o dia estudando, quer brincar.

Mas mamãe não desistiu! Com o tempo comecei aulas de artes plásticas, pintava quadros, tecidos e até sabonetes (uma evolução da pintura que eu fazia na parede de casa, ao que parece)! Eu adorava misturar as tintas, formar cores e jogar tudo na tela... e me dei muito bem com isso também... assim como as aulas de desenho. Tudo que mamãe tentava no ramo das seis belas artes eu gostava e pegava o jeito... pra parar depois.

Algo estava terrivelmente errado.

Logo chegaram as aulas do ensino fundamental… e a leitura obrigatória voltou. Eu tinha escapado disso em casa e tinha caído num buraco ainda maior! Porque se eu não lesse o livro que a professora mandava, ficava sem nota e, consequentemente, não passaria de ano. Um pesadelo horrível... mas eu me esforçava. E então eu fui viajar. Todas as férias eu ia para a casa da minha bisavó, no interior de São Paulo, e ficava o mês todo! Era muito bom, inclusive porque minha prima era vizinha da nona. Sim! Parede com parede. Crescemos juntas e fazíamos quase tudo juntas desde... desde sempre, mas um dia ela resolveu ir à biblioteca da cidade.

Aquele suplício chamado leitura me seguia aonde quer que eu fosse!

Quando ficaria livre?!

Mas enfim, fomos até a tal biblioteca. Era loucura! Enquanto eu observava algumas prateleiras sem interesse, ela voltou com 4 livros. Quatro livros! Quem lê quatro livros em uma semana? Ela disse que o limite eram cinco por pessoa e que eu poderia pegar um em seu nome pra ler antes de dormir. Veja bem, no interior as pessoas costumam dormir cedo, tipo... 19h, e eu ia deitar muuuito mais tarde! Então, segundo ela, eu poderia ler à noite até ter sono.

Eu pensei em recusar, afinal, odiava ler! Mas de certa forma ela estava certa. O que eu ia fazer a noite, enquanto todos dormiam? Talvez algo chato ajudasse a dar sono... Okay, peguei um livro com a capa legal e voltamos. Eu não lembro o nome, mas sei que a capa era rosa e tinha algo a ver com um diário.

Naquela noite... algo mágico e surpreendente aconteceu.

O livro era ótimo! Peguei-me fissurada naquelas páginas e presa às palavras... até que eu percebi que não tinha mais jeito, eu havia sido fisgada.

Na manhã seguinte, quando fui à casa dela, levei o livro já lido e pedi para pegar outro. Eu mal acreditava! Assim que voltei para a escola, em São Paulo, fui correndo à biblioteca e me aventurei pelas prateleiras para, quem sabe, encontrar algo tão incrível quanto o de capa rosa. As semanas passaram e minha carteirinha da biblioteca logo ficou cheia, frente e verso, e tive que fazer outra.

Minha mãe não disse nada, mas tenho certeza que pensou em algo parecido com “eu sabia”.

A sensação de carregar livros era maravilhosa, eu sentia que podia viajar para onde quisesse! Quando minha mãe me obrigava a sentar em um cantinho do quarto e ler por uma hora inteira eu me sentia presa, sufocada. Mas com a obrigação parando de existir, eu me abri para as páginas dos livros... E embora fossem velhos e usados, o cheiro daquelas milhares de páginas tornou-se um vicio que eu não pude resistir.

Mas ainda tinha um pequeno problema...

“Por que você não pega um livro brasileiro?”, perguntou minha professora, Marta, certo dia. Aquilo me fez pensar, mas não o suficiente para me aventurar nos brasileiros. Poxa, a qualidade do livro – e não estou falando da história – estrangeiro era muito melhor! A capa bem feita, as imagens mais realistas... a sinopse era mais interessante!

Mas ela não desistiu. Na semana seguinte me acompanhou até a biblioteca e me entregou um livro pequeno, a capa azul com o desenho de uma garota escrevendo num caderno... que não me parecia interessante e muito menos atrativo, mas por ela eu acabei levando. Dois dias depois tive que abraça-la, era uma história incrível! A marca de uma lágrima, de Pedro Bandeira, me conquistou logo nas primeiras páginas... abrindo espaço para novas histórias.

Minha mãe estava certa afinal, talvez eu tenha a alma extremamente ligada às belas artes. Já me aventurei pela pintura, escultura, música, teatro... e gostei de cada segundo! Mesmo que a arquitetura me fascine, sei que meu lugar é na literatura, nosso transporte para mundos desconhecidos... mas devo confessar que nada supera escrever, colocar suas ideias no papel e mostra-las ao mundo! E não posso negar que a sétima arte (cinema, para os mais íntimos) me atrai cada vez mais.

Agora olhe só! De uma garota que odiava ler e não suportava sequer ver um livro na frente, me tornei uma leitora compulsiva. Minha teoria? Ahhh, é simples. Ninguém gosta de ser obrigado a nada, especialmente crianças... deve sim haver o incentivo, mas não é a pessoa que escolhe o livro.

Eu odiava ler, até que um livro de capa rosa me escolheu, desde então comecei a escolher meus próprios livros... E da leitora nasceu a escritora, uma garota de quase 20 anos que já tem cinco livros prontos e outras dez ideias diferentes, apenas esperando sua vez...

Se é fácil? Não, nem um pouco, mas a sensação de ver suas ideias no papel é divina! É uma libertação que só quem escreve conhece... às vezes não tenho tempo para sentar e escrever, e dói tanto! Mas os poucos minutos que consigo com as palavras já são um alívio...

e pensar que isso tudo começou com um livro de capa rosa!

E você? Qual foi o livro que te escolheu?


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