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Foto do escritorStéfane Franco

A pintura terminou...



Boa parte das crianças chora quando chega o primeiro dia de aula... afinal, pra quê ter de ir a um lugar estranho, cheio de crianças estranhas, onde você não poderá brincar à vontade ou pedir aquele lanchinho maroto para a sua mãe? E, claro, seus pais não estarão lá, mas sim os chamados “professores”, mais pessoas estranhas. Então sim, ir à escola pode ser um tormento.

Mas ao contrário das outras crianças, quando fui pela primeira vez à pré-escola, lembro que muitas crianças estavam chorando, agarradas à barra das mães... mas a pequena Stéfane estava sorrindo, animada pelo primeiro dia! Quem diria, não? Fui uma das primeiras a entrar, ansiosa para conhecer aquele mundo novo, fazer amigos e aprender bastante!

Sempre fui aquela criança curiosa, que quer saber como tudo funciona, então quando sentei-me na cadeira pequena numa sala quadrada, cheia de mesas coloridas, caixas com brinquedos e crianças chorosas, encarei a mulher de cabelos curtinhos escuros, que sorria para nós e explicava como seria dali pra frente. Não lembro muita coisa sobre ela, mas sei que seu nome era Márcia, era uma mulher ligeiramente baixa e com a voz doce.

Esse foi meu primeiro contato com alguém estranho que, de certa forma, iria me moldar e ensinar coisas. Mas conforme o tempo foi passando e passei para a próxima etapa, percebi que ela não seria a única. Eu era apenas uma criança, mas adorava conhecer essas pessoas, que pareciam tão inteligentes! Para a inocente e pequena Stéfane, os professores eram pessoas grandes, que sabiam de tudo! Imaginem só, alguém que sabe tudo... e isso não está longe da verdade.

Li em algum lugar que professores são como agricultores de inteligência... eles plantam uma semente a cada aula, regam todos os dias e cuidam para que nada atrapalhe, para no fim terem uma colheita grandiosa, que em breve será levada para conquistar o mundo... pronta e saudável.

Do professor do primário que ensina o ABC e as contas de mais, o que explica as regras do ABC e aumenta a matemática para multiplicação e divisão. Aquele que ensina artes, história, geografia, ciências e até educação física ou ensino religioso... Então chegam as Orações Coordenadas e Subordinadas, a Segunda Guerra Mundial, o desenho artístico e as esculturas de gesso, a geopolítica de países que não conhecíamos antes e a divisão (finalmente!) de ciências em física, química e biologia. As fórmulas que sofremos para aprender, as reações orgânicas e inorgânicas, a formação e evolução do ser humano. E então chegam o inglês e espanhol, sociologia e filosofia, geometria e trigonometria, a literatura, os grandes reinos dos seres vivos, hidrocarbonetos, Platão, Sócrates, rochas e minerais, gráficos, fórmulas, encontre o x! São tantas coisas! Tantas definições e esperanças...

Mas então, depois de quase 10 anos de construção da estrutura do prédio, finalmente chega o momento em que se deve ornamentar... essa é uma das mais importantes etapas da vida, decidir o que fazer... devo ser escritor? Talvez médico, advogado, engenheiro... artista!

A verdade é que já quis ser muitas coisas... a cada professor que ensinava com a alma, uma sementinha sua caía na minha mente. Já quis fazer Matemática, mas nunca chegaria aos pés do professor do ensino médio que entrava sem livros na sala e ditava as fórmulas e regras sem ter uma colinha. Não... nem pensar!

Também quis ser Arquiteta, outro dia pesquisei sobre Design, escrevi alguns versos como Poeta e já me disseram que poderia fazer Direito. No fim, quando finalmente escolhi qual seria a fachada do meu prédio, fui para a universidade e então começou uma segunda e nova obra... professor a professor, as paredes foram reforçadas, a estrutura sólida e confiável – graças ao fundamental – tornou-se grandiosa e a pintura dos cômodos começou.

Então vieram as matérias específicas, e os edificadores se empenharam e, diariamente, esforçam-se para entregar a melhor e mais perfeita obra possível. Então conhecemos o desenho, estatística, sociologia, criatividade, ética, marketing. Disso tudo, cada uma delas se dividiu em outras milhares de áreas, e pouco a pouco vejo que meu edifício está ficando forte, alto e bonito.

Tive muitos professores, e cada um deles contribuiu com a construção em algum momento. Não sei o que diriam de quem sou hoje – ou caminho para ser –, mas sei o que eu diria para cada um deles, em meu coração, caso os encontre... sinto sua falta! Não sou poeta, mas espero que, neste 15 de outubro, tenha conseguido demonstrar um pouquinho da admiração que tenho por todos os meus professores.

E quando se tem saudades, o que mais desejamos é ter uma fotografia... infelizmente não possuo de todos, mas posso garantir que lembro o nome de cada um deles, guardarei os trejeitos, as expressões e as vozes que ouço – e já ouvi – tantas vezes... As manias engraçadas e as palavras presentes em 99,99% das conversas. Um dia, quando eu já estiver mais velha, lembrarei-me de todos eles com saudades e sentirei falta dos tempos em que aprendia o ABC através do professor do primário, do ensino fundamental, médio e superior.

Mas, mesmo admirando e amando todos eles... preciso admitir que três deles foram essenciais. Aquele “Trio de Ouro” – e digo isso apenas se for relacionar à minha área de atuação, se abrisse para todas, aí sim seria uma lista interminável –, que marcou minha vida de tal forma que já tornaram-se mitos. Os três grandes que, quem conhece, provavelmente saberá quem são sem a necessidade de eu nomeá-los.

Para começar, preciso dizer que sempre gostei de assistir filmes... mas sem qualquer compromisso que não fosse diversão. E hoje, olhem só, isso mudou tanto! O primeiro ouro, sem sombra de dúvidas, é a quem chamo de “O Mestre do Cinema”.

Suas aulas eram um show contínuo, daquelas que você fica de boca aberta do início ao fim e, quando acaba, pede por mais... ele é metódico, extremamente! E o que posso dizer? Sinto falta de quando, após todas as aulas, ele se dispunha a ficar até tarde para uma conversa que iniciava-se com uma simples pergunta. Foram horas, direto, de conversa sobre crises existenciais, cinema, livros, física, filosofia, astrofísica, simbologia, matemática... Ohhhh sim, um mestre!

Certa vez participei de um projeto que envolvia a análise de um filme, mas pequena como era, precisava de uma grande ajuda para dar um passo maior... Ele não tinha obrigação nenhuma, não fazia parte de sua aula ou da grade curricular, mas quando fui perguntar sobre o assunto, ganhei uma aula sobre. Um cinéfilo em absoluto, como ele, se recusaria a ver mais de uma vez qualquer filme que tenha tido fracasso de bilheteria... mas não é que, coincidentemente, o dito filme que eu precisava analisar se encaixava nessa categoria? Então, dizer que sou apenas agradecida seria pouco perto do que senti quando descobri que ele o tenha visto mais de três vezes (isso mesmo, T-R-Ê-S vezes!). A lista de elogios é grande, então talvez seja melhor parar por aqui antes que eu me empolgue.

Agora, o segundo ouro é de uma loira maravilhosa, incrível, divina! Tem um apelido um tanto quanto... demoníaco, no prédio, sua fama então? Nem se fala! O medo é coletivo. Mas não foi preciso mais que alguns minutos de aula para eu perceber que o apelido não faz jus à pessoa. Lembra do show contínuo que comentei alí em cima? Expanda isso para as artes e verá do que estou falando.

Quando vi que teria essa matéria, no início do semestre, não me contive de alegria. É uma matéria que sempre gostei, mas hoje posso dizer que estava errada, eu não gosto... eu amo! Teoria, por si só, é longa e cansativa, mas ela conseguiu fazer de uma aula puramente teórica a melhor do semestre. Ensinou que nada é por acaso em uma imagem, e provou isso a cada obra mostrada no Datashow. Fez-me ansiar todos os dias por suas aulas e me assustou quando decorou meu nome no primeiro mês de aula.

Ela já afirmou inúmeras vezes que está na profissão certa e que ama o que faz, mas tenho certeza de que ela não se vê como eu a vejo... uma mulher forte, de personalidade forte e um sorriso contagiante. Uma pessoa que ensina com a alma, que não tem medo ou receio de passar o que sabe e faz isso muito bem!

Costumo dizer que essa loira é divina, de outro planeta e completa e intelectualmente invejável... daquelas que vou manter como espelhos de vida. Então o que dizer? Apenas que tenho grande e imensa admiração por essa pessoa incrível e quero ser como ela quando crescer. Anseio por ter todo esse conhecimento e, principalmente, paixão e fervor. Fica muito vergonhoso se eu pedir que ela me adote?

Sabe que, às vezes fico me perguntando se, durante as aulas, em meu rosto fica tão óbvia a admiração quando em meus pensamentos...

Ahhhhhhhhhh, e por último, porém nem um pouco menos importante, minha “Deusa da Criação”. E já aviso: ela é exigente, muito. Tudo que você fizer, ela vai falar os pontos fortes e enaltece-los, mas prepare-se para quando ela começar a falar o que está ruim.

Por algum motivo, e não me pergunte qual, sempre me dei melhor com os professores mais exigentes e perfeccionistas... talvez porque eu sou assim também, quem sabe? Mas o que importa aqui é... ela é ambas as coisas. Elogia bastante quando precisa, e de tal forma que você se sente nas nuvens... mas também sabe criticar. E não entenda mal! Não são aquelas criticas pesadas que simplesmente te derrubam sem explicação alguma, não, de forma alguma! São críticas do tipo que ajudam a melhorar, que enaltecem sim seus pontos fortes, mas que querem melhorar seus pontos fracos.

Certa vez, marcamos um dia para conversar... e entre os vários trabalhos que mostrei... Ela me jogou no chão com algumas delas, admito, mas foram essas mesmas críticas que me estenderam a mão e me levantaram logo em seguida. Foram críticas que ela usou de exemplo em cada aula, mas que fizeram crescer, injetaram nas veias a vontade de melhorar que faltava. Ela entregou as diretrizes do que fazer, do que funciona e do que nunca, jamais, deve ser feito.

Não tenho palavras para agradecer o quanto ela contribuiu com a minha formação, e embora ainda tenha chão até que eu receba o tão sonhado diploma, sei que, se tiver pessoas como ela, estarei bem. Seu legado é imenso, e devo muitas coisas a ela... meu terceiro espelho de ouro.

Como disse, meu edifício está ganhando janelas de vidro acrílico e quadros já começam a ornamentar minhas paredes. Aos poucos, os móveis estão sendo construídos e as placas da entrada colocadas... Tive a sorte, e foi muita, de encontrar arquitetos, engenheiros e designers de primeira para essa construção, e sei que um edifício que se preze precisa de acompanhamento e constante atualização. Da mesma forma, tenho a grande certeza de que encontrarei ainda mais profissionais, que me ajudarão na manutenção.

A parte elétrica está em fase final... mas logo começaremos novamente, afinal, nada pode dar errado, certo?


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