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Foto do escritorStéfane Franco

IPhone vs Classe Social


1945.

A Segunda Guerra Mundial chega ao seu fim enquanto uma disputa ideológica nasce... O mundo seria marcado para sempre e uma busca do modelo econômico ideal para o mundo é iniciada.

Com a derrota alemã, dois novos blocos se consolidam como grandes potências. De um lado, os Estados Unidos da América e seu modelo econômico pautado no consumo: Capitalismo. Do outro, a União Soviética traz um ideal de igualdade e liberdade através do Socialismo.

Um mundo Bipolar, numa Guerra Imagética.

“O espetáculo não é apenas um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas mediadas por imagens”. Guy Debord não poderia estar mais certo quando lançou o conceito de Sociedade do Espetáculo na década de 60. A Guerra Fria era, acima de tudo, um espetáculo... Um show de aparências na corrida entre EUA e URSS para consolidarem seus ideais. Muitas tecnologias foram desenvolvidas e o mundo evoluiu com extrema rapidez...

Enquanto a Europa efervescia de novas tecnologias, Juscelino Kubitschek (JK) iniciou a política de aceleração do desenvolvimento econômico brasileiro, alavancando a indústria automobilística e industrial... As importações eram cada vez mais frequentes e uma classe intermediária surgia no ambiente econômico enquanto a demanda por ofertas crescia.

Aparelhos telefônicos, por exemplo, passaram se tornar mais acessíveis e a internet difundiu-se rapidamente... O avanço era muito rápido, um loop da montanha russa e logo centenas de novas tecnologias pipocavam pelo mundo, a economia crescia absurdamente e começaram a aparecer os primeiros aparelhos de telefonia móvel: celulares.

Não obstante, computadores deixaram a aparência grosseira e foram se compactando em notebooks e, posteriormente, tablets. O acesso à informação avançava em passos largos e muitas empresas se viram obrigadas a acompanhar a caminhada...

Em 1976, em um dormitório de faculdade, nascia a empresa que hoje é sinônimo de tecnologia e luxo. A Apple Computers Inc, desenvolvida por Steve Jobs e Steve Wozniak, revolucionou o segmento de computadores ao lançar o Apple I, avançado para a época e rejeitado por empresas já consolidadas.

A marca da maçã, entretanto, foi rapidamente elevada ao topo, onde enfrentou todos os limites e cultivou o que virou a grande marca da genialidade, tornando-se líder de mercado com eficiência, modernidade e inovação.

Macintosh (1984), Pixar (1986), IMac (1998), ITunes (2001), IPod (2001), IPhone (2007), MackBook Air (2008), IPad (2010).

E embora Jobs esperasse que a Apple descobrisse uma maneira melhor de prover televisão às massas, seus computadores e smartphones estavam entre os mais caros do mercado e a Classe A tornava-se o grande público-alvo.

A Apple tornou-se sinônimo de luxo, e aqueles sem poder aquisitivo não se incluíam nesse grupo seletivo.

Como afirmava Marx no século XIX, o produto ganha mais valor que o produtor... Uma humanização das mercadorias, e desumanização das pessoas. A classe C sempre foi, ao longo da história, a classe preterida... Sem poderes de compra e dona apenas da força de trabalho...

Na década de 60 e com o período ditatorial, os brasileiros passaram por crises intermináveis, terríveis inflações e trocas de governos até chegar em Luís Inácio Lula da Silva, oriundo da classe trabalhadora que, em seu segundo mandato na presidência, contribuiu para uma melhor distribuição de renda entre os menos favorecidos, dando visibilidade ao que não tinha visibilidade. Uma verdadeira revolução comportamental.

Com a Pós-Modernidade, mudanças significativas foram vividas e provocadas pelo homem, novos valores ganharam espaço e, hoje caracterizada no Brasil por uma renda média de 4 a 10 salários mínimos, a Classe C é a maior detentora do poder de compra e, com tendência ascendente, houve a disseminação de itens considerados de luxo para as pessoas que vivem em “mundos” diferentes.

A nova classe C deseja respeito e honestidade, mas acima de tudo, ser incluída. E, como qualquer outra classe social, está à mercê do poder da propaganda. O fútil torna-se necessário, e para adquirirem determinado produto, parcelam o valor em diversas vezes. Compram pouco por vez, mas compram.

Clientes fieis.

Lembram da Apple? Empresa multimilionária que conquistou seu espaço no mundo tecnológico? Bem... Steve Jobs construiu muito mais que produtos, construiu um estilo de vida. Uma vida de luxo e glamour, afinal, ter um Iphone é ser influente. Ter Apple é ter grandiosidade. Uma vida construída por máscaras...

Na pós-modernidade, todas as referências foram perdidas, toda a liberdade pela qual o homem lutou desde a Idade Média fragmentou-se, as relações tornaram-se frágeis e suas noções de identidades, criadas na fase das certezas, entraram em crise com a era das incertezas e a dominação da tecnologia.

Assustador, não?

Stuart Hall, entretanto, enxerga uma luz no fim do túnel. Pois é a partir da crise que um novo processo se inicia... Ao contrário de uniformizar o gosto, como nos tempos da velha massificação, há um processo que prioriza a diversificação.

Toda crise gera oportunidades, e aqui não é diferente.

Identidades plurais estão sendo redescobertas!

Por que pensar em uma homogeneização se existem tantas culturas? Há a cultura hippie, a cultura afro, a cultura branca, a cultura infantil, a cultura que você gostava quando era criança, a cultura que aprecia agora que cresceu... Há a cultura da sua mãe, do seu pai, dos seus amigos e de tantas outras mais! Falando em identidade, há uma exclusão das demais. Para quê excluir se podemos unir e mostrar a diversificação?

Como aliada, a tecnologia foi um dos inventos mais geniais do ser humano. Trouxe consigo a comodidade e praticidade, conecta as pessoas que estão longe e possibilita trocar informações... Um clique e o mundo todo verá aquela foto especial, ou mesmo um bilhetinho de saudades para aquela pessoa que está longe... E um IPhone tem tudo isso. Lançado em 2010, pode navegar rapidamente pela internet, tem um bom desenvolvimento e, obviamente, um produto Apple tem seu charme.


Mas enquanto você olha para a tela do aparelho, o mundo continua dando voltas, as plantas crescem e as pessoas se conhecem e aprendem entre si. Se você olhar para cima, verá que as relações no mundo físico são muito mais interessantes que as do mundo eletrônico. Os minutos que você gastou teclando com alguém no metrô poderiam ter sido o momento em que conheceria o grande amor da sua vida, ou aquela amizade duradoura... Poderia ter conquistado o sorriso da pessoa à sua frente, poderiam conversar enquanto vão para seus destinos e poderiam trocar informações... Poderia ter conhecido uma nova cultura, reencontrado aquele amigo do ensino médio ou visto o sorriso no rosto de uma criança brincando com sua mãe.

Um IPhone te dará o status da marca e uma máscara de luxo para a face... Te dará o acesso à informação num piscar de olhos e te conquistará de tal forma que não viverá sem ele.

Chocolate demais engorda, açúcar em excesso gera diabetes... Mas não vivemos sem eles certo? Seu médico diria para ter uma alimentação saudável e equilibrada... “Mantém o chocolate, mas diminui sua dose e aumente a comida saudável em seu prato”.

Mantenha a tecnologia, mas saiba viver sem ela. Mantenha a Apple, seu grande desejo... Mas não deixe que ela tome conta de sua vida e transforme-se no indispensável. Você pode viver online... Mas tenha uma vida saudável off-line.

Olhe para o seu celular.

Você precisa dele quando vai abraçar um amigo?

O limite entre precisar e querer é uma linha tênue facilmente transposta e instável... Mas é você quem decide ultrapassá-la.


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